sexta-feira, 19 de junho de 2009

Cão-Guia


(Texto: Renata Lakatos)



Voltando do almoço na quarta-feira me deparei com uma cena bastante comum, principalmente ali próximo à Paulista: um deficiente visual subindo na rua Borges Lagoa, em direção ao metrô. Como estava um bom tanto atrás, comecei a observar. Ele estava indo bem, mas notei que, apesar de usar aquela "bengalinha", ele ficava confuso às vezes, principalmente com fissuras na calçada e elevações por conta de rampas para carros, coisas para quem pode ver, no máximo, é um incômodo ou pode levar a um tropeço...

Toda vez que ele chegava em algum lugar que julgava ser uma rua que precisaria atravessar, ele aguardava.....muitas pessoas passavam por ele e sequer perguntavam se ele precisava de alguma ajuda ou se queria atravessar...Simplesmente passavam, como se ele nem estivesse ali. Depois de certo tempo, ele acabava por pedir a alguém que o ajudasse a atravessar. Com isso acabei chegando próximo a ele apenas quando estávamos prestes a atravessar mais uma rua. Perguntei se ele precisava de uma ajuda e qual seu destino. Ele aceitou a ajuda, sorriu e me disse que estava indo em direção ao metrô -mesmo destino que eu. Me ofereci a acompanhá-lo até o metrô e percebi que ele ficou um tanto surpreso, agradecendo porém se "esquivando" de me responder se queria ajuda. Ao terminarmos de atravessar a rua, comecei a caminhar a seu lado e conversar. Ele me disse que as condições das calçadas o deixaram bastante confuso e acabou cedendo e me dando o braço, seguindo assim, com uma facilidade incrível. Parecia que ele notava quando eu pisava num degrau ou coisa do gênero e vinha atrás de mim como se enxergasse tudo!

Bem enfim cheguei ao metrô e ele seguiu como um daqueles "jovens cidadãos", seu caminho.


Mas devo dizer que foi inevitável que uma pergunta surgisse na minha cabeça: Por que ele não tinha um cão-guia? Será que era muito caro conseguir um? Achei indelicado perguntar, então me calei....Claro que assim que voltei no meu computador, fui "voando" pesquisar o motivo pelo qual, como havia constatado pelo caminho de volta, eu havia visto apenas 1 cão-guia em toda minha vida, com um detalhe: eu trabalho na Avenida Paulista, em São Paulo, um lugar onde se vê de tudo todos os dias... De Hare Krishnas e entusiastas do Greenpeace a vendedores de ingresso e pessoas com roupas esdrúxulas.

Descobri coisas incríveis, que me deixaram bastante chateada: apesar de o Brasil possuir quase 17 milhões de deficientes visuais, dos quais dois mil aguardam na lista de espera IRIS ( Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social , que é a maior entidade de luta pelo direito dos deficientes visuais do país e traz, a um custo irrisório, cães guias para quem fica na lista de espera e aguarda por muito tempo e com muita paciência), apenas 60 têm um cão guia! E, destes, 20 foram trazidos pelo instituto.

Poxa, é um absurdo que essas pessoas não possam ter seu próprio cão. Além de um companheiro e tanto, esses animais ajudam muito, sendo responsáveis por grande melhoras nas vidas desses deficientes, que podem até passar a morar sozinhos, como é o caso de Thays Martinez, fundadora do IRIS e que só teve coragem para sair da casa dos pais depois de começar a conviver com Boris, seu primeiro cão-guia, que a acompanhou até pouco tempo, quando se aposentou e foi substituído pelo labrador Diesel.

Sei que nos sentimos impotentes, por não termos uma idéia do que fazer, mas minha dica é: sejam solidários quando virem um deles na rua, com dificuldade e, se quiserem realmente ajudar, entre em contato com o IRIS.







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